Guardião da Noite

É sempre mais escuro antes do amanhecer...

Nos momentos que antecedem o fulgurante nascer do sol, as pessoas permanecem mergulhadas no reino de Morpheu.

Sonhos caminham para seu fim.

Algumas pessoas permanecem acordadas, como eu...

Trocam seus momentos de descanso por uma busca impossível de respostas.

Os olhos vermelhos observam as estrelas sumirem.

A cada momento que passa elas desaparecem.

Desaparecem como os dias passados.

As lágrimas secaram a muito tempo.

Todos já tiveram sonhos que se foram.

Ideais se foram com o amadurecer dos anos vividos.

Ficamos anestesiados pela indiferença com que algumas pessoas encaram a vida e a morte. Viver do acaso.

Caminhar sem direção em uma vida sem propósito.

Qual a razão ? O que faz os gatos chorarem a noite como crianças ?

O que faz os boêmios procurarem uma resposta no fundo de uma garrafa ?

Na minha eterna solidão, algumas repostas ficam no ar.

No limiar dos meus trinta anos espero que o novo milênio me traga iluminação.

Todos esperamos.

Sussurrando preces os condenados esperam pelo carrasco do tempo.

O fio do machado do crítico, cada dia mais cego, nos rasga a alma.

Somos o que somos. Bons ou maus, bons e maus. Eternamente maus.

As estrelas se foram e o rubro no céu me lembra que está na hora de dormir.

Coloco o que resta de minha alma nas páginas que encontro.

Rascunhos dos meus delírios, dos meus pesares e angústias.

Escrevo para que o meu sentir possa ser liberto.

Não te tenho. Não posso dizer-te tudo que desejo.

Em minha eterna desilusão, sonho com a sua presença, seu aroma em entorpece e me faz delirar.

Falo seu nome para que minha mente possa terminar as frases com sentido.

Suplicando, adormeço com sua imagem na minha mente.

O fulgurante nascer do sol leva o céu profundo.

A lua cai em seu descanso diurno.

Pessoas acordam para a vida. Deixam o sono de lado para encarar mais um dia. Elas dormem tranqüilas por que eu fico a zelar por seu sono.

Eterno guardião da noite.

Quando o dia terminar e o céu se tornar negro e profundo, salpicado de estrelas, eu estarei aqui novamente.

Cuidarei do sono de todos até que me seja permitido descansar ao teu lado...

 

Por Ricardo Figueiredo

Rio, 02/07/98

 

 

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