Mortalidade

Olhando pela janela, espero que o tempo passe.

Escrevendo, tento descobrir mais sobre mim.

No escuro, vejo as horas passando lentamente.

A música me traz algumas lembranças.

As mãos trêmulas mostram que tenho medo.

A noite já está alta e o dia a muito se fôra.

Um mar verde e amarelo deveria me trazer alegria, estou indiferente.

A lua brilha como um sol, na noite escura.

Vejo o mar, vejo as pessoas... estou só. Só como a lua.

O eterno sol do deserto ilumina minha noite.

Penso em minha vida como um quadro.

Cada dia pincelo um risco a mais na tela do meu viver. Eterno existir.

Na paisagem da minha vida espero achar um sentido que me seja claro algum dia.

Com a areia nos meus pés, caminho sob o luar.

Sinto minha alma fluir rumo aos céus.

O vazio me consome. Seus olhos me faltam.

As pessoas me olham enquanto gargalho sozinho.

Indiferença, curiosidade e loucura. Estes são seus pensamentos.

Pensamentos de um louco - penso eu.

O que é sanidade ?

Será que somos aquilo que somos por acaso ? O que é o acaso ?

Caminho com o vento nos meus cabelos.

No mar, sereias clamam por mim... seu canto me atrai.

A muito tempo pensava que podia fazer de tudo.

Eu era jovem. Cheio de ideais, cheio de paixão pela vida.

Escrevia pensando que isso seria a minha única saída.

Não sabia onde chegaria com isso. Não importava.

Me disseram que a vida me seria curta. Provei que estavam errados.

Amo aqueles que me cercam.

Convivo, esperando que, no amanhã, eles me estejam presentes.

Na afirmativa da minha mortalidade provarei que meu ser será eterno.

Mesmo que meu dia chegue, mais cedo ou mais tarde, terei algumas palavras guardadas para provar que ainda vivo.

Gostaria que minhas palavras ficassem muito além de mim.

Espero viver eternamente nelas.

Quero ser eterno mesmo que tudo que exista termine para mim no meu último suspiro.

Mesmo que eu finalize cada uma de minhas peças com o derradeiro fim.

Haverá sempre um alguém para ler de novo cada uma delas.

E nesse ciclo eterno minha vida jamais terá, como nesta peça, um final...

 

Por Ricardo Figueiredo

Rio, 11/06/98

 

 VOLTA

HOMEPAGE