Nudez

Mais um começo.

Para se iniciar deve-se sempre dar o primeiro passo.

Não será diferente agora.

Estava pensando no que me faz sempre recomeçar...

Pegar uma folha de papel em branco e lançar palavras que contam um pouco mais sobre mim.

Relatar aquilo que sinto que faz com que eu conheça um pouco mais sobre os segredos que escondo de mim.

Às vezes olho para o céu azul e me lembro de composições que me levaram para muito além dele.

Fico olhando a chuva que molha minha cidade maravilhosa, lavando o suor acumulado em uma semana de calor sufocante, e penso nas vezes que me banhei nela pensando que pudesse lavar meu pecados e purificar minha alma.

Foram muitas vezes. Já contribuí com lágrimas a esta chuva, porém meus pecados permanecem comigo. Eternos.

Quando escrevo percebo que um pouco de mim fica aqui.

Sou escriba do meu próprio caminho.

Aqui descrevo minhas paixões da forma que as sinto e meus medos com um toque de filme B.

Nestas folhas rabiscadas, deixo meu passado, pensando em descobrir como cheguei ao meu presente.

Um João e Maria perdido na floresta urbana. Pelo menos os pássaros não poderão comer meus miolos de pão...

Cada pensamento que tenho permanece atemporal nestas palavras. O tempo pode passar, mas as coisas que senti ficarão muito além de mim.

Às vezes tenho medo de mostrar meu mundo às pessoas.

Ele está muito presente aqui, como está presente em cada célula do meu corpo. Em cada pensamento, sinto sua presença.

Quando parei de escrever - minha lacuna de passado - fiquei perdido no que chamei de "Ressaca Romântica".

Mas de repente, como se foi, a vontade de me despir em palavras foi voltando e até hoje tenho minhas seções de nudismo literário. Minha nudez de sentimento será minha forma de dizer que estou me conhecendo.

Estou trilhando um caminho rumo ao auto-conhecimento.

Isso me levará a loucura ou, novamente, a um recomeçar...

Rio, 27/11/98