Muito além do fim...

Já deveria ter terminado.

Como terminar algo que flui de nossa alma ?

É como represar um rio caudaloso.

Algo, a natureza eu suponho, não permite que eu simplesmente pare de escrever.

Algo dentro de mim me impulsiona.

Quero ir além deste fim que me impus.

A cada dia refino mais meu sentir.

Sempre sonhei que o escrever me levaria além das paredes que me cercam.

Existe um mundo imenso além daquilo que me prende.

Sempre que paro a olhar pela janela da minha casa fico a pensar.

Este mundo é tão grande.

Tanto a ser visto, tanto a ser descoberto, tanto a sentir.

Vejo o céu, vejo as pessoas a passar...

O céu está cada vez mais distante.

Não tenho os seus olhos.

Deixei minha chance de viver e, ser feliz, na minha juventude.

Um dia pensei que se pudesse aproveitar meus dias com sofreguidão pudesse te esquecer. Ilusão... Queria acreditar nisso.

Tinha que acreditar. Minha sanidade dependia disso.

O tempo, carrasco que arrasta suas horas como correntes a me perturbar, tirar o meu sono, me amaldiçoar.

Fico a escrever, já que não posso te ter.

Ser poeta é sofrer ?

Se o sol nasce todo o dia temos que viver.

Quando o sol nascer terei mais um dia a lamentar sua perda, sua ausência.

Um mergulho rumo a escuridão que me afaga, isso é tudo que desejo.

Estar na noite como costumava ser antigamente. Ser parte da noite.

Estar com ela e suplicar ao tempo que ele seja eterno neste momento.

Sou a pedra, sou a lua, sou a esperança de poder te ver uma vez mais.

Pedir que sua presença me leve, mesmo que isso seja o meu fim, porque, mesmo que termine, haverá sempre um novo começo...

 

Por Ricardo Figueiredo

Rio, 23/06/98

 

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