Sacrilégio

Um vôo rumo a escuridão, uma lágrima no silêncio...

O renascer, o abrir dos olhos, a diferença...

Do manto das trevas para o inferno das luzes..

Uma gota de sangue...

O cheiro da angústia...

O estrondo da vida, o calar da morte...

O sentimento do medo, a dor de amar...

As muralhas da consciência...

A liberdade do ódio.

...

...

Poderia ficar criando antíteses e somente dizê-las...

Poderia chorar sem motivo...

Qual a razão ?

Não há.

Palavras não são para serem escritas,

idéias não são para serem comentadas.

Devemos escrever o sentimento e pensar o sacrilégio.

Devemos viver do nosso íntimo,

escrever o que jamais deveria ser escrito,

cavar nossa própria sepultura...

Deveríamos viver a morte como vivemos a vida.

Amar a vida como odiamos a morte.

Nascer do esquecimento...

Nos distanciar de nós mesmos...

Deveríamos "ler" nossa consciência como fazemos aos mais sagrados livros.

Chorar por alguém que mereça...

Amar como eu acho que amo...

Finalizar antes que acabe realmente...

 

Por Ricardo Figueiredo

Rio, 23/02/90

 

 

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